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[bom]
Eu
recomendo: Max e os Felinos
Autor:
Moacyr
Scliar
Editora:
L&PM
Pocket
Sinopse:
Max vive na Alemanha,
e desde pequeno sempre teve contato com grandes felinos, pelas peles que seu
pai vendia em sua loja, assim como o grande animal empalhado que lá ficava,
morto por seu próprio pai, e que grande medo causava ao pobre menino. Anos mais
tarde, com o surgimento do regime fascista na Alemanha, e se envolvendo em
diversas confusões, Max se vê obrigado a fugir as pressas, com destino ao
Brasil. Ele consegue sua passagem em um velho cargueiro que acaba afundando – o
que ele acredita ter sido uma sabotagem – e se vê perdido no meio do mar, em um
escaler, com um jaguar a bordo.
Meu
cantinho:
Consegui Max e os
Felinos em uma troca pelo skoob como mostrei em minha caixinha de correiopassada. Ele é um livro bem pequeno e muito fino, por isso decidi carregá-lo na
bolsa quando saí de casa e fui capaz de ler ele entre minhas folgas, e em uma
tarde finalizei a leitura. O livro se divide basicamente em três partes: uma
introdução no qual Moacyr Scliar fala sobre o conflito entre seu livro e As
aventuras de Pi e um possível plágio; um breve artigo comparando as duas obras
escrito por Zilá Bernd; e por fim o livro em si.
A primeira parte
muito me interessou, ela foi acrescentada ao livro depois de todos os
acontecimentos envolvendo o fato de Yann Martel ter baseado seu livro na ideia
principal de Max e os felinos: um rapaz, após um naufrágio, fica perdido no
mar, em um bote com um grande felino. Eu amei muito o filme e o livro As aventuras de Pi, e na época, quando soube desse possível plágio de uma obra
brasileira fiquei um tanto quanto decepcionada e muito curiosa. Lembro-me de ter
assistido um vídeo no qual Moacyr Scilar falava um pouco sobre o acontecimento,
sua introdução fala as mesmas coisas que o vídeo, mas um tanto mais detalhadas.
Quando as comparações chegaram aos ouvidos de Moacyr, assim como da imprensa,
ele teve uma reação diferente do que eu esperava. Muitas queriam ouvi-lo
falando mal de Yann, acusá-lo de plágio, queriam que Moacyr o processa-se (confesso
que quando soube pela primeira vez desse episódio, sem todos os detalhes,
também o desejei). Entretanto, Moacyr não acha que tal ato seja um plágio, que
apesar de Yann ter admitido ter se baseado na ideia do livro dele, são livros
muito distintos, ele chegou a ler As aventuras de Pi e elogiou o texto, e falou
que em hipótese alguma ele pensava em processar Martel. O que realmente o
desagradou foi a declaração de Yann sobre a obra Max e os Felinos, pois ele
declarou nunca ter lido o livro, mas ter tomado conhecimento dele através da resenha
de um jornalista em específico do New York Times que falava mal da obra, e que
ele achava a ideia muito boa para ser desperdiçada. Contudo, Moacyr tinha em
mãos a resenha desse mesmo jornalista que não era desfavorável, seu livro foi
traduzido e publicado em outros países sempre como uma boa aceitação. Lembro-me
do vídeo no qual Moacyr declarava que Yann entrou em contato com ele pediu
desculpas e atualmente ele cita Moacyr nos agradecimentos. Mas, na minha
opinião, acho que Moacyr não ficou de todo satisfeito, ele fala como nos
agradecimentos Martel agradece Moacyr pela “centelha de vida” mas não cita Max
e os Felinos, e isso parece ter incomodado-o. Basicamente achei muito nobre a
atitude de Moacyr, por ter elogiado o trabalho do Yann, não ter considerado um
plágio, não ter processado o outro autor, porque como ele mesmo disse, isso
traria mais visibilidade, mas não da forma que ele desejava que sua obra a
alcançasse. Yann escreveu uma obra maravilhosa, mas ele me pareceu um tanto
incorreto pela sua primeira declaração denegrindo a obra na qual se baseou,
falando de uma resenha que de fato nunca existiu, de um livro que diz nunca ter
lido.
A segunda parte intitulada
“De trânsitos e de sobrevivências” é um estudo de Zilá Bernd que fica fazendo
uma comparação entre as obras de Moacyr e Yann, contudo, ao começar a ler eu
acabei deixando-o de lado e fui direto a obra, pois esse estudo revela muito
spoilers de ambos os livros, e eu queria ter minhas próprias ideias sobre essa
nova obra e não ser influenciada por outros. O livro é pequeno, e as duas
primeiras partes, antes do livro de fato, ocupam aproximadamente 40 páginas das
122 páginas totais que o livro tem. Antes mesmo de começar a ler já fiquei com
dúvidas, se ele não perderia em qualidade em questão de detalhamento, já que Pi
é um livro muito mais extenso, mas ainda acreditava que o livro poderia me
surpreender.
O livro se passa
muito rapidamente, ele se atém a algumas passagens que são escritas com alguns
detalhes a mais, mas no geral ele segue de modo superficial. Mostra Max e alguns
conflitos que tinha com o pai, o medo do grande felino empalhado que ficava na
loja, uma situação traumática envolvendo-o, e Max já esta crescendo, se
envolvendo com mulheres, indo para a faculdade. Nesse ponto o sistema nazista
começa a se espalhar pela Alemanha, e confesso que narrativas que envolvem a
Segunda Guerra sempre atraem muito a minha atenção, mas ele pouco fala do
governo, e seu desentendimento com o partido nazi se deve ao fato dele dormir
com a mulher de um homem do partido. Ele precisa fugir as pressas e acaba embarcando
em um cargueiro, com péssimas acomodações, no qual houve o ruído de diversos
animais, já que uma das cargas são animais de um circo. O capitão e o dono dos
animais sempre parecem ter conversas sussurradas e suspeitas, e quando o navio
naufraga, Max tem certeza que o ato foi premeditado. Ele consegue fugir em um
escaler, que está bem preparado e equipado para emergências, o que o faz ter
ainda mais certeza de que tudo foi tudo arquitetato. Um dia depois do acidente
ele acha uma grande caixa flutuando e quando abre o jaguar pula para dentro do
escaler. O animal, não avança, não faz nada contra Max, mas quando ele
aparentemente começa a reclamar de fome, ele começa a pescar para satisfazer o
animal, e basicamente é isso que ele narra sobre os dias no mar: ele pesca e
alimenta o jaguar. Quando Max é resgatado eu fiquei nada menos do que
decepcionada e frustrada, não era nada do que eu esperava. É nesse momento que
a comparação com As aventuras de Pi se tornam inevitáveis. Max não fala da
busca por água, por sombra, das dificuldades, parece que ele só coloca o anzol
na água e os peixes pulam nele, e isso me decepcionou porque Pi foi muito rico
de detalhes, seus sofrimentos, sua angústia, a chuva, o vento ou a ausência
dele, a escassez de água, de alimentos, e principalmente: o comportamento do tigre era muito real, diferente do jaguar que fica um dia preso numa caixa sem comer, não ataca o garoto e começa a resmungar quando quer peixes. E o desfecho das aventuras de Pi foram
sem dúvida muito mais empolgantes e emocionantes do que o desfecho de Max e os
Felinos. Max é resgatado, chega ao Brasil, começa a reconstruir sua vida, mas
ainda cercado por fantasmas do passado que ainda se relacionam com felinos,
apesar do jaguar ser rapidamente esquecido.
Max e os felinos é
uma obra que faz uma crítica a imagem de um poder autoritário que toma a
forma de felinos, mas achei que ela foi trabalhada de uma forma muito
superficial na passagem com o jaguar e muito mais aprofundada depois de sua
chegada ao Brasil. Pi é muito mais rico, seja nas passagens, antes, durante ou
depois do naufrágio, suas reflexões são muito mais complexas ao meu ver.
Acredito que o estudo apresentado na segunda parte desse livro seja um pouco
favorável demais a obra brasileira, sempre fazendo análises profundas que eu
não consegui enxergar em Max como vi em Pi.
Eu gostaria de dizer
que o livro do brasileiro Moacyr é melhor que As aventuras de Pi, mas isso não
seria verdade. É uma obra interessante, leve, para se ler em uma tarde, mas um
pouco decepcionante por sua superficialidade em boa parte do enredo. Apesar de
ter tido a ideia original, ambos tem histórias distintas, e Yann me conquistou
com a riqueza de detalhes, da veracidade e de suas reflexões, muito mais que
Scliar.
Volume
único.
Bom, eu acho que foi plágio sim. Ainda mais que pela perspectiva do Martel de que um 'reles autor brasileiro' não seria levado em conta na hora da prestação de contas. Eu não li As Aventuras de Pi, mas vi o filme, até gostei. Quero mesmo é ler Max e os Felinos. Ainda vou comprá-lo no Estante Virtual.
ResponderExcluirBeijo, Van - Blog do Balaio
balaiodelivros.blogspot.com.br
Como disse em outro comentário, um amigo disse que essa comparação/polêmica foi muito exagerada e, por sua resenha, dá para perceber exatamente isso. Mesmo sabendo que é um livro inferior, a ideia de "Max e os Felinos" também é muito bacana, principalmente por essas críticas, então pretendo ler. Só não sei até que ponto incluir a declaração e a análise das duas obras pode ser positivo. Até parece uma forma de vender... Espero mudar de opinião quando conseguir essa edição.
ResponderExcluirBeijos,
Ricardo - www.overshockblog.com.br
Eu só li um livro do autor, "Um sonho no caroço do abacate" faz muito tempo, eu ainda estava na escola e lembro que gostei bastante apesar de ser curto.
ResponderExcluirEu não sabia que As aventuras de Pi foi baseado no livro do Moacyr, não li nenhum dos dois e na verdade nenhum deles me chama a atenção, mas achei o post interessante.