26 de setembro de 2014

O Doador de Memórias

The Giver (2014) 
Dirigido por Phillip Noyce

Quando eu resenhei sobre o livro O doador de memórias eu disse que o li com diversas expectativas apenas pelo pequeno pedaço do trailer que eu tinha visto. Contudo, elas não foram atendidas porque o livro é muito mais pacato, com pouca ação e nenhum romance, diferente do filme. O livro é muito parado e as modificações feitas realmente foram necessárias para movimentar o filme – isso porque eu li críticas sobre a ausência de ação e romance sendo um filme puramente reflexivo. Acredito que no final ele acabou tendo um pouco de tudo. Pretendo explicar melhor o enredo, as diferenças, e pontuar o que me agradou e que me desagradou nesse filme.

    

Jonas (interpretado por Brenton Thwaites) vive em um mundo ideal. Não há fome, não há brigas, desconfianças, guerras, ou qualquer tipo de conflito. Não se faz distinção por raça, cor, credo, ou religião, todos são iguais, todas as diferenças foram apagadas. Cada pessoa na comunidade possui o mesmo tipo de moradia, vestimenta, comida e possibilidades. O conselho toma as decisões para que os cidadãos não cometam erros, eles recebem suas atribuições, assim como seus parceiros e seus filhos. Eles seguem as normas de cortesia, eles não podem mentir, devem prezar a precisão da linguagem, e obedecer todas as regras existentes.
Jonas vive sua vida de acordo com as regras, ele está ansioso pela cerimônia na qual será atribuída sua função, pois ele não tem a mínima ideia do lugar para o qual será designado. Durante a cerimônia seu número é pulado, ele fica apreensivo, assustado. É quando é revelado que não lhe foi atribuído uma função, mas que ele foi escolhido para o cargo de Recebedor de Memórias, uma função muito importante, um cargo que não era designado para ninguém há mais de dez anos. As regras de sua nova posição são entregues e ele se assusta com o que lê, ele pode faltar com as regras gerais de cortesia, ele pode perguntar qualquer coisa, ele não pode compartilhar seus sonhos, ele tem autorização para mentir.
Quando começa seu treinamento seu mentor (interpretado por Jeff Bridges), antigo recebedor, agora Doador de Memórias faz algo inesperado, lhe transmite através do toque memórias do passado. Na construção da sociedade ideal foi necessário abrir mão de muitas coisas boas como o amor, o desejo, a possibilidade de escolha, música, arte, cores, e todas as lembranças do passado que remetessem a elas. Lentamente ele começa a ter contado com isso, estações diferentes, animais, cores, dança, aventuras, esportes. Mas o passado não é feito apenas de coisas boas, há dor, guerras, conflitos, fome, amargura, entre tantas outras coisas ruins. O papel do Recebedor de Memória e armazenar todas essas lembranças para que elas não causem pânico na população e para que ele tenha conhecimento para orientar o conselho diante de situações inusitadas. 
Acontece que quando Jonas começa a viver tudo isso ele passa a sentir falta do que não tem, ele acha que é errado viver sem tudo o que já viu, ele deseja compartilhar isso com seus amigos e familiares. Entretanto, sem essas memórias ninguém sente o mesmo ele, ninguém é capaz de realmente entendê-lo, além do Doador. Seu objetivo então é dividir essa memória e junto com o Doador, Jonas bola um plano para atravessar a fronteira da comunidade, de modo que a memória volte para todos, e todos possam sentir novamente.

    

A primeira coisa que eu não gostei no livro foi que para dar uma maior movimentação ele criou um romance entre Fiona (interpretada por Odeya Rush) e Jonas, e até um aparente ciúme do melhor amigo dele Asher (interpretado por Cameron Monagham). Acontece que no livro não há esse romance, de fato Jonas parece se importar um pouco com ela, e sonha com ela certa vez, mas não existe todo esse envolvimento. Para quem não sabe, no livro Jonas tem apenas 12 anos e um romance super elaborado não era sequer condizente. No filme o ator parece mais velho (descobri que Brenton tem 25 anos!) e isso até se encaixa, o que não é fiel ao enredo, mas é aceitável. Agora o fato do melhor amigo dele parecer sentir ciúmes e certa apreensão ao ver os dois juntos não foi condizente com a trama. Eles tomavam remédios para inibir esse tipo de sentimento, eles nunca sentiam de fato em profundidade, os olhares atravessados ficaram fora de contexto.

    

Outra coisa que me chateou foi eles colocaram atores grandes, famosos, em papéis pequenos e tentarem forçar um estaque para eles. O foco do livro é sempre em Jonas e no Doador, afinal eles são aqueles providos de memórias e sentimentos. Então eles colocam Alexandrer Skarsgard como o pai de Jonas (o lindo do Eric da saga True Blood) e Katie Holmes como sua mãe e ficam criando cenas extras para que eles apareçam um pouco mais.. Eu acho que essa tentativa de dar mais espaço para personagens sem destaque acabou mostrando-os como personagens rasos, se eles tivessem se focado mais em outros aspectos da trama, talvez tivesse sido melhor.

    

Esse “destaque desnecessário” também ocorreu com a Taylor Swift. Ela interpreta uma personagem que é apenas citada no livro e aparece durante um minuto no máximo no filme, mas ela teve um destaque absurdo! Até comentei na resenha do livro que achei estranho eles acrescentarem uma entrevista com ela já que ela está longe de ser uma personagem importante na trama. A Meryl Streep é uma atriz maravilhosa, mas seu personagem sequer existia no livro. Novamente, acredito que pegaram uma atriz de grande porte e a trouxeram para criar uma resistência e movimentação no filme, mas ao meu ver foge do padrão estabelecido na trama. As pessoas não deveriam sentir em profundidade, mas me parece que ela guarda grande desconfiança, e receios, e até certo sentimento de vingança. Isso destoa tanto da ideia geral da comunidade que me incomodou. Na realidade, foi a mesma coisa que senti a respeito de Asher, situações não condizentes com o enredo.
Uma última coisa que eu achei super bobinha que eles criaram foi a marquinha no braço. De forma muito conveniente, tanto o receptor quando o doador tinha a mesma marca no braço. Quando Jonas acidentalmente transmite uma memória para um bebê ele tem a mesma marca no braço. Isso não tem no livro e eu achei bem clichê. Jonas na verdade foi escolhido além da coragem, inteligência pela capacidade de “ver além”, porque perceberam que ele via algo a mais, ele via cores. Não é uma mancha no braço que diz isso, foi algo desnecessário.
Como disse no começo dessa postagem eu entendo algumas mudanças, o romance foi destoante, mas foi algo necessário que casou com a história, mas outras coisas como essa anciã chefe interpretada pela Meryl Streep fugiu do contexto. Ainda assim eu acho que o filme foi bom, uma adaptação bem feita de modo geral. Recomendo ir ao cinema assistir.


Confira o trailer!

2 comentários:

  1. Eu tenho mais vontade de ler o livro do que assistir ao filme, apesar de muita gente ter gostado mais do filme, como você.
    Quanto ao filme, não gosto muito quando eles modificam a obra para fazer sucesso nas telonas. Dar destaque a personagens quase inexistentes apenas por causa do ator então, nem se fala.

    M&N | Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de setembro

    ResponderExcluir
  2. Ei, Dudi! Estou louca para ver esse filme, ainda não tive tempo. Li várias resenhas, e muito gente o elogiou.
    Ainda não conhecia o seu blog... e confesso, gostei bastante. Voltarei mais vezes.
    Sucesso!
    Bjo, Josi
    http://blogelatemestilo.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir