12 de março de 2014

Gênesis

[muito bom]

Eu recomendo: Gênesis
Autor: Bernard Beckett
Editora: Intrínseca

Sinopse:
Anaximandra se sente diferente de alguns colegas, entre gostos e preferências ela se vê tomando atitudes diferentes do grupo. Um dia apreciando o pôr do sol ela conhece Péricles, ela percebe que ele é diferente e compartilha algumas de suas opiniões com ele. Ele então revela que é um membro da Academia – a instituição que regula e governa a sociedade atual, diz que ela deveria se candidatar ao processo para entrar e que ele poderia ser seu tutor. Ela escolher falar de Adam, um marco na República de Platão. Para isso ela conta sobre o declínio do mundo como conhecemos: desconfiança, guerra e destruição. Um pequeno conjunto de ilhas que se mantêm a parte, que monta linhas de defesas e se afasta dos conflitos. O surgimento de uma nova ordem, seu declínio, ações impulsivas de Adam que criam novas rachaduras no sistema e sua punição: viver trancado em um quarto, interagindo com um novo protótipo de robô consciente chamado Art. Os escritos nos fazem refletir sobre o poder, o que significa ser humano, questões éticas relacionados ao desenvolvimento tecnológico e se um robô com consciência está no mesmo patamar que um ser humano ou acima dele.

Meu cantinho:
Eu comprei esse livro esperando algo completamente diferente, porque o que eu li na internet, o modo como o livro me foi apresentando é bem diferente de como ele é. Este é um trabalho bem singular, questionador, que nos faz refletir sobre alguns assuntos e simplesmente puxa o tapete do leitor no final e surpreende todo mundo.
O livro todo se passa em uma sala onde Anaximandra está passando por um exame, sendo avaliada por três examinadores, apresentando sua tese, em uma avaliação de quatro horas para tentar ser admitida na Academia, a instituição que organiza, que governa a sociedade no mundo atual. Através da sua tese é possível entender o que aconteceu com o mundo, já que ela oferece toda uma contextualização histórica do que aconteceu. O mundo mudou completamente, houve uma disputa pela ordem mundial, desconfiança, crescimento de potências, desafios de poder envolvendo vários lugares, China, Estados Unidos, Japão, o Oriente Médio. Diante das tensões e desses conflitos, um homem chamado Platão, com uma grande fortuna, inteligência, além de contatos, prevendo o final trágico do conflito entre essas superpotências comprou um grupo de ilhas afastadas conhecidas como Aotearoa e fez com que estas fossem autossuficientes. Diante do crescente conflito internacional as pessoas aceitaram facilmente a influência de Platão de que as ilhas precisam de um sistema de defesa mais eficiente, construindo assim a Grande Cerca Marítima da República. Conforme a guerra, pestes e outras informações trágicas se espalhavam a ilha se mantinha segura e Platão foi visto como salvador da raça humana. Diante da ameaça de risco biológico, qualquer avião, navio, refugiado que se aproximasse da muralha era rapidamente eliminado. Plantão identificou quais teriam sido os erros cometidos pela humanidade e propôs uma norma ordem que evitaria que esses se repetissem. As pessoas foram dividas em classes conforme a interpretação de seus genomas: trabalhadores, soldados, técnicos e filósofos. As crianças eram separadas dos pais ao nascer, após um ano era designada para sua classe, tendo uma educação física e intelectual rigorosa. Homens e mulheres viviam separados, recebendo após um tempo permissão governo para casar, sempre se tentou destruir qualquer individualidade, para que as pessoas pensassem no bem geral, levando mais em consideração o Estado ao indivíduo. Nesse ponto Anax se aproxima do seu tema, Adam, um homem que a muito tempo morreu, mas por quem ela sente grande fascínio. É um tema comum, ensinado em todas as escolas, que poucos se interessam, mas que despertou verdadeiro fascínio nela. Adam é um homem que tem um particularismo desde que nasceu, uma vida turbulenta, ele age sempre no limite, algumas vezes ultrapassando-o. Quando trabalhando na Grande Cerca, ele resgata uma refugiada, em um bote despedaçado, de ser aniquilida, ele causa grande comoção, e acaba sendo mais um dos fortes fatores que dão fim a República de Platão. Questões sobre sentimentos e humanidade envolvem essa estória, além das intenções do governo, manipulações e a contestação da ordem. Entretanto, esse ainda não é o ponto principal dos estudos de Anax, mas sim a punição que ele recebe – um modo dele ser de fato punido, sem que seja pela morte e isso cause ainda mais insatisfação na população que havia tomado seu partido. Ele se vê trancado em um quarto, obrigado a interagir com um protótipo de robô chamado Art, que foi desenvolvido para pensar por si, e que precisa de interação humana para se desenvolver o máximo possível. Os documentos e as lacunas na história são preenchidos pela interpretação de Anax que busca ser uma historiadora, ela tenta provar como poderia ser o desfecho entre a relação de Adam e esse robô. Acontece que ela acaba sendo surpreendida por descobrir que a academia retém informações, que documentos não revelados contam o verdadeiro final desse mistério. 
Enquanto ela relata todos os acontecimentos o leitor se vê obrigado a refletir sobre diversas questões, os desenvolvimentos tecnológicos, as substituições de humanos por máquinas, o que faz um ser humano diferente de um robô – conhecimentos, sentimentos, consciência? E se um robô adquire consciência, será ele melhor do que os humanos, sua maior agilidade e inteligência somada a esse fator novo, tornam-o melhor? Seriam os humanos superiores apenas por o terem criado, ou isso é irrelevante por um mero acaso como tenta demonstrar Art. 
Em alguns pontos achei a leitura meio cansativa, pois são muitas informações posta de modo muito rápido e racionalmente, de acontecimentos que são extremamente grandiosos. Mas esse é apenas um detalhe, e o final compensa tudo. Ele é nada menos do que inesperado, o leitor vê suas suposições caírem por terra, e se sente enganado e maravilhado pelos questionamentos e esperteza do escritor.

Volume único.

4 comentários:

  1. Oie Juliana =)

    Já tinha visto esse livro no skoob, mas confesso que a primeira vista não é um livro que me chama muito atenção.

    A premissa é boa, mas algo me faz pensar que a narrativa seja um pouco lenta.

    Beijos;***

    Ane Reis.
    mydearlibrary | Livros, divagações e outras histórias...
    @mydearlibrary


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  2. Confesso que não sou muito fã desse tipo de distopia, mas fiquei bastante curiosa com esse livro!
    Parece ser realmente muito bom!
    Vou add na lista!
    Beijinhos
    Rizia - Livroterapias

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  3. Amei a sua sinopse e me interessei pelo livro, vou pesquisar um pouco mais, por essa é a primeira resenha que vejo do livro, mas já ta na lista
    Brubs
    http://contodeumlivro.blogspot.com.br/

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  4. MEEEEEU DEUS, minha flor, vim aqui retribuir sua carinhosa visita ao meu blog (e porque adoro suas resenhas), mas SEMPRE me surpreendo! (rs)
    Eu gosto muito das suas preferências literárias. E o jeito como você expõe a estrutura e o enredo dos livros que lê me atrai! Não tinha ouvido NADA sobre este livro, minha flor. É a primeira resenha que leio, mas fiquei encantada! É uma distopia sobrenatural, mas com toques de sci-fi dados pela tecnologia presente na história. Que coisa incrível!
    Já marquei como meu desejado, haha. Adorei!

    Ah, postei hoje a resenha do livro 2 de Crônicas Arcanas, da autora Kresley Cole. Você já leu? Acho que é o tipo de livro que te agradaria também (rs).

    www.myqueenside.blogspot.com

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