21 de novembro de 2014

Onde começa e onde terminar esse tal de relacionamento


Eu acredito que um relacionamento não começa com um “você quer namorar comigo” e finaliza com um “acho melhor a gente terminar”.
Talvez essa visão seja um pouco estranha e talvez algumas coisas que eu fale não façam sentindo para essa era pós-moderna, surrealista, sideral de relacionamentos. Hoje em dia é uma liberdade para se envolver, para se entregar seja para um ou para vários, para estar sem um compromisso, para algo casual. Eu sou do tipo antiquada, quadrada, tradicional. Gosto de um relacionamento a dois, sem qualquer terceira, quarta ou quinta parte. Gosto de honestidade. Exijo fidelidade. Nada de voyer, niente de trocar, não aceito dividir e nada de se envolver sem amar.
Eu tenho para mim que um relacionamento não começa com um “você quer namorar comigo”, nem mesmo com um beijo: é muito antes. É a conversa interessante que te atraí, é a expectativa de se ver, é o friozinho da barriga em um primeiro encontro. É o toque inocente, como de um braço ou uma mão que gentilmente se esbarram. É o sorriso imenso nos meus lábios. É ficar de mãos dados sem a necessidade de mais nada. É se conhecer lentamente, mas ávido por mais. São os gestos de afeição, é o encantamento, a aproximação, a atração. 
Depois de tudo isso tem o beijo, e mais sorrisos, e mais frio na barriga na expectativa por mais. Mais encontros. Mais olhares. Mais cheiro. Mais lábios. É a colisão entre dois mundos em um encaixe perfeito. É compartilhar sua vida e estar aberta a dividir seus amigos, sua família, seu tempo, seu hobbies, as coisas boas e ruins. É viver novas experiências, é conhecer ainda mais. É deitar ao lado dessa pessoa e conversar durante horas, é perguntar sobre tudo, do mais banal como “qual sua cor favorita” até coisas significativas que moldaram a pessoa que está ali contigo. É ter a possibilidade, mas simplesmente não desejar estar com mais ninguém, pois aquela pessoa que está ao seu lado lhe basta. E talvez demore alguns dias, algumas semanas ou quem sabe um mês. Talvez venha de uma forma super planejada ou totalmente espontânea, mas uma hora a gente escuta aquele “você quer namorar comigo” e são mais sorrisos e borboletas no estômago.
Portanto, um compromisso verdadeiro não começa com um pedido ou um status no facebook. Um compromisso começa no desejo de se estar com alguém e se sentir tão plena, tão feliz, que você decide ficar ao lado dessa, e somente dessa pessoa. É a intensidade, o frenesi de estar na companhia daquele que lhe causa arrepios, uma inquietação, ao mesmo tempo em que lhe traz conforto e segurança.
E então vem o namoro. Logicamente que nem tudo são flores, às vezes ele torce pelo palmeiras e você para o corinthians. Às vezes ele tem uma mãe que não te suporta. Pode ser que o melhor amigo dele seja um total pé no saco. Quem sabe você acabou de descobrir que ele ronca alto! Às vezes os problemas são ainda maiores. Às vezes podem ser tão insignificantes que parece não haver problema algum. Pode ser que vocês torçam pelo mesmo time, que os pais dele te adorem, que os amigos dele se tornem seus, que dormir e acordar ao lado dele seja a coisa mais feliz que você já viveu. Que ele lhe proporcione memórias maravilhosas, que ele faça você enfrentar os seus medos, que faça você gargalhar com mordidinhas e cócegas. E entre vocês existirá algo tão terno, que pertence só a vocês. Pode ser alguém tipo de apelido carinhoso, um beijo na testa, uma carícia no pescoço, algum gesto carinhoso ou nem tanto assim. Pode ser que ele insista em apertar o seu pneu, ou te de uma lambida na cara, um cascudo ou cutuque seu umbigo. Qualquer coisa sem sentido e que esteja longe de parecer carinhosa, mas é, é de vocês e só de vocês, algo que sempre lhe fará lembrar esta pessoa, algo que ele nunca teve nem nunca terá com mais ninguém.
Às vezes vocês terão um romance de cinema. Enfrentado alguns obstáculos em seguida a felicidade plena. Pode ser que tudo seja perfeito. Ele abre a porta, ele puxa a cadeira, ele dá presente sem motivo especial, ou um gesto simples, como uma flor colhida no quintal, mas que vindo dessa pessoa é algo extremamente especial. Ele se lembra das datas comemorativas, ele escreve cartas e declarações de amor. Ele é romântico, atencioso e cuidadoso. Se você perguntar a roupa que vocês usaram no primeiro encontro ele vai se lembrar assim como você se lembra. Vai ter dias que tudo o que ele mais quer é ficar jogado na cama do seu lado, em que ele vai estar mais do que ansioso para passar um tempo como você. Ele vai ser alguém que sabe te valorizar. Ele vai te esperar para ver o episódio novo que lançou daquele tão amado seriado. Ele vai fazer concessões. Ele vai entender sua TPM. Ele vai elogiar seu vestido novo e dizer o quanto você está bonita, te puxar pela cintura e te dar um beijo de novela. Ou talvez nem tudo seja tão brilhante assim, talvez seu romance de cinema esteja mais para novela mexicana. Pode ter acontecido de você puxar a cadeira e ele nem perceber e se sentar no seu lugar (juro, isso é possível, já aconteceu comigo). Ele acha flores a coisa mais ridícula do mundo, afinal, elas morrem de qualquer jeito. Ele odeia trocar presente porque acha muito trabalhoso. Ele nunca lembra a data de nada, não gosta de ler nem de escrever cartas. Ele não é romântico, nada de música tema do casal, jantar a luz de velas, surpresinha especial. Ele não se lembra nem da sua cor favorita, quem dirá a roupa que vocês usaram no primeiro encontro alguns meses atrás (apesar de você lembrar claramente de fazer a maquiagem, de escolher a blusa com aquele bordado e um sapato de salto). E chega o fim de semana, e você está numa preguiça danada, você não quer fazer nada a não ser deitar ao lado dele e relaxar, mas ele não suporta esse não fazer nada a dois. Você quer muito esse final de semana casal, mas ele quer esse final de semana com os amigos do futebol, os amigos do churrasco, ou a companhia do videogame. 
Às vezes o perfeito é perfeito demais e enjoa, ou talvez não seja tão perfeito assim. Às vezes a novela mexicana irrita pela qualidade ruim, mas quem disse que você não vai ter momentos bons e ser feliz? A verdade é que sempre haverá coisas boas e haverá coisas ruins. O que é preciso é saber ter bom senso, equilíbrio, sabendo que não pode ser tudo do seu jeito ou do dele,  é preciso fazer concessões. Hoje saio com os amigos dele. Hoje saio com os amigos dela. Hoje vou ver aquele jogo de futebol insuportável onde os jogadores nem são bonitos. Hoje vou ver aquela apresentação de dança chata. É ter também coisas em comum. Hoje vamos nos ver. Finalmente chegou aquela festa bacana. Hoje tem churrasco com os amigos. Aquele filme maravilhoso no cinema. Nada como ficar junto e fazer amor.
E então algo pode dar errado. Já estava tudo insuportável e o relacionamento não era mais prazer e apenas obrigação. Ou tudo está como sempre, mas os sentimentos mudaram. Ou para você nada mudou, mas a outra parte já não quer mais. Pode ser que vocês sejam amigos de mais ou amigos de menos. Você cedeu demais ou nunca aprendeu a ceder. Eram quase irmãos gêmeos ou diferentes em coisas essenciais. Podem ser tantas coisas e às vezes você nem sabe o que aconteceu. Às vezes já é esperado, as vezes você não espera, e quando vê a expressão do outro está séria, o ar está tenso, a pessoa diz seu nome de um jeito que você já sabe que ela vai dizer “acho melhor a gente terminar”. 
Pode ser que vocês briguem, ou que nenhuma voz vá se alterar. Pode ser que tenham lágrimas ou cada um rapidamente siga seu caminho. Pode ser que seja rápido ou algo demorado. Pode ser que você se levante e vá embora, pode ser que você se ajoelhe e peça por mais... mais tempo, que não lhe será concedido. Não importa como seja, pois mais que você acredite que possa, não tem como se preparar. Vai doer, vai machucar. E você vai olhar para inúmeras fotos, no celular, no porta-retrato, na carteira, na agenda, na geladeira, em todo lugar. E então você vai ver os presentes, é um enfeite, é uma roupa, é qualquer coisa que te faz lembrar. Lógico que não acaba ai, pois tem resquícios desse relacionamento em todo lugar, seja nas duas escovas de dente na pia, uma roupa íntima largada em algum lugar, é um objeto que a pessoa esqueceu, é algo que te emprestou, algo que você nem lembrava que não era seu, ou o simples perfume que ficou no ar. Então do nada você não consegue mais ver porque as lágrimas embaçaram tudo.
E então não tem mais fotos nas redes sociais, e nada de “relacionamento sério” no facebook, nada que os outros possam ver, mas ainda existe tudo dentro de você. Dizer que terminou não significa que acabou, pois há tanta coisa aqui...

Juliana Sayumi Kobayashi

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Eu sempre escrevo resenhas aqui no blog, sejam de livros, filmes ou seriados. Mas até então nunca havia publicado um texto pessoal meu, entendem? Sempre vejo isso em outros blogs e fico tentada a fazer o mesmo, mas tenho medo da rejeição que ele pode sofrer. Esse texto estava guardado tem alguns meses, decidi me arriscar e aqui estou, espero sinceramente que gostem.

3 comentários:

  1. Dudi, acho que você deveria publicar mais textos assim. Eu adoro! E adorei o seu!
    Acho que o equilíbrio é uma das chaves para ter um relacionamento saudável. Mas é tão difícil conseguir alcançar um equilíbrio perfeito. Acho que impossível. Mas a medida que amadurecemos conseguimos melhorar. Li recentemente uma pergunta "o que seriam dos começos sem os finais?" (algo assim). Então, quando uma coisa acaba, outra bem melhor estar por vir. Na prática é mais dolorido, mas acho que conforta saber que sempre o melhor estar por vir. E uma hora o cara que não vai ser perfeito, mas perfeito na medida do possível. E que uma briga e um desentendimento não vão ser o suficiente para acabar algo tão bacana. Assim espero! ;-)

    beijos,
    Carol
    www.pequenajornalista.com.br

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  2. Antes do xororô: que liindo o cachorrinho! *-*
    Acho engraçado estar lendo seu texto hoje, um dia que tô numa fossa ferrada em relação a amor ahaha já tinha me esquecido desse processo lindo que é se apaixonar, ser feliz de verdade ao lado de alguém.. tem gente que encontra outro logo na esquina, mas tem gente que fica se remoendo por muito e muito tempo, e mesmo quando tudo já parece superado, volta à tona e acaba com a pessoa. As vezes acho que seria melhor que o 'terminar significasse que acabou', porque então talvez a dor seria menor, você não guardaria magoa, rancor, e nem mesmo as lembranças felizes que ainda te fazem sofrer. Sei lá. O amor é complicado. Como pode um sentimento tão bom, um dia conseguir te deixar tão mal?

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br
    Tem resenha nova no blog de "Ligeiramente Casados", vem conferir!

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  3. E a propósito, fiquei meio envolvida e esqueci de comentar. Seu texto ficou maravilhoso! De verdade, falou tantas coisas verdadeiras, coisas que provavelmente outras pessoas também acham e nunca conseguiram colocar em palavras. Poste mais textos seus aqui, com certeza eu e todos seus leitores vamos amar ler!

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